OCUPANDO O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO

Manifesto da Rádio Várzea Livre

QUEM COMUNICA SE ESTRUMBICA!

Por qualquer que seja o meio ou maneira, comunicar é inerente ao ser humano. Lutamos pela nossa liberdade de expressão como se tentássemos escapar de leões famintos. E embora este seja um direito nosso, assegurado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, os leões seguem impunemente tocando o terror. São eles, os donos do poder, monopolizadores da mídia, latifundiários do ar, políticos, padres e pastores, cínicos de toda espécie. E nós somos apenas criaturas alegres e indesejáveis ocupando os meios, movendo-nos.

É verdade que a parafernália tecnológica das grandes emissoras de TV, rádio, jornais e mega portais da internet não comunica. Para nós, comunicar implica o diálogo horizontal entre as pessoas. A troca de experiências e de conhecimento é o que move o ideal de uma comunicação livre, onde debates e manifestações ignorados pela grande mídia encontram o seu canal de transmissão. A profusão de informações que se acumulam a partir de um único emissor tem lógica irracional, monocultural, servindo apenas ao controle capitalista das massas e à desinformação do povo.

Negamos as relações hierárquicas nos meios de comunicação livre. Não há editor chefe ou patrão que dite o conteúdo a ser veiculado. Rejeitamos a verticalidade nas decisões do coletivo, nossa prática é autogestionária, nossa rádio é livre e, principalmente, nosso microfone é aberto a qualquer um que queira fazer o seu programa, irradiar, tomar a palavra.

Não temos fins comerciais, partidários ou religiosos. Não aceitamos jabá, patrocínio ou financiamento. Não somos o fim, somos o meio.

Procuramos criar condições para uma experiência de atuação direta. A ideia é “produzir recebendo” e “receber produzindo”, uma via de mão dupla, onde somos ao mesmo tempo programadores e ouvintes, emissores-receptores. Não aceitamos a dominação cultural que nos querem impor os meios comunicação comerciais. Fizemos florescer um canal livre no espectro eletromagnético! A rádio está pronta para a apropriação das pessoas comuns, para realização de seus desejos, suas utopias.

Para quem se coloca politicamente diante da sociedade, a comunicação livre se realiza como uma atividade anticapitalista, pois nega o modo de produção e manutenção das relações sociais no sistema. A rádio livre subverte essa lógica e prova que outro modelo é possível, é urgente. Faça você mesmo ou morra!

“produzir recebendo” e “receber produzindo”

Contudo, toda atividade realizada contra o capital ou é rapidamente assimilada pelo sistema, ou, no caso da resistência, é reprimida de maneira brutal. Estamos assistindo a uma intensa repressão das rádios comunitárias e livres no Brasil: têm sido costumeiro o fechamento de rádios e roubo de seus equipamentos pela Polícia Federal e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que muitas vezes atuam de modo inconstitucional.

O argumento de que as rádios livres interferem na comunicação entre aviões não passa de um conto da carochinha, terrorismo ideológico sem fundamento científico. Nunca, em toda a história do rádio brasileiro, tivemos notícia de que um avião tivesse sido derrubado por uma rádio.

A legislação brasileira para comunicação está firmada num processo de concessão que só beneficia políticos e empresários, não garantindo meios democráticos para disseminação de uma informação livre de interesses, e muito menos para o exercício da nossa liberdade de expressão.

Então, aqui vai nosso recado: confisquem nossa antena, e duas outras surgirão. Destruam um transmissor, faremos dois! O Movimento de Ocupação do Latifúndio Eletromagnético não cessará enquanto o ar não for livre! O ar é de todos e precisa deixar de ser ferramenta de dominação das grandes corporações midiáticas que o Estado insiste em defender.

Movimento de Ocupação do Latifúndio Eletromagnético (M.O.L.E)

A RÁDIO VÁRZEA LIVRE DO RIO PINHEIROS (107, 1 fm)

Fazer rádio livre não é caçar ouvintes ou se preocupar com quantos estão sintonizados em cada música, cada ideia. Se assim fosse, não valeria a pena. Sabemos que não atingimos multidões com nossos fracos equipamentos. É o florescimento de um meio, a revitalização do espectro! Muito mais do que um código ou conteúdo a ser veiculado, é o veículo. Não importa o que, o importante é onde para o que acontecer. A rádio livre é o espaço onde a liberdade de expressão se realiza, onde a palavra é tomada, é ruída! É uma luta contra o sistema de concessão e monopólio dos meios de comunicação, contra os latifúndios eletromagnéticos. As rádios livres só existem porque sabem e sentem que não há liberdade, ruir é urgente!

A Rádio Várzea é só mais uma (mas não é só uma) nessa luta. Como qualquer várzea ela enche e esvazia com as cheias e secas, ela não é constante (quem se pretende constante é a Globo, Record e todas as outras com seus padrões mercadológicos de “”“qualidade”””). Mas como qualquer rio, o nosso também transborda e nossa enchente leva nomes como Osama Bin Reggae, ocupação da freqüência da rádio Bandeirantes no meio de um jogo de futebol (2005), em que foi lido um manifesto, corres com Fábricas ocupadas, com Sem tetos e Sem terra, oficinas pela cidade, ajuda na montagem de rádios, entre tantas outras fitas. É tru, nosso rio também bagunça quando transborda!!

Assim como a várzea do rio Pinheiros onde está situada, a rádio corre na horizontal, sem hierarquias: em um coletivo de rádio livre ninguém pode mais, ninguém caga regras!!

Em tempos de comoção quando morre um filho da puta que encheu o cú de dinheiro, fama e poder produzindo tecnologia para poucos (mas explorando o trabalho de muitos!!!) as rádios livres tem muito mais a oferecer à sociedade do que qualquer novo software ou novo aplicativo. Uma rádio livre (como é a precursora Muda, Pulga ou a Várzea entre tantas outras) é um laboratório aonde se flerta e se testa um novo mundo em que todos os ifones (e seus adjuntos) se curvarão diante do: eu, você, todos nós comunicamos. Quebrando a lógica que rege o mundo, a lógica do espetáculo em que  bilhões de seres (des)humanos são espectadores boquiabertos diante da tela.

Na Rádio Várzea não há preocupação com profissionalismo ou excelência técnica. Gaguejar, o sotaque, errar a música, estourar o som, ficar em silêncio, não saber o que falar e o xiado fazem parte do dia-a-dia desse espaço onde o microfone é livre. É a gente mesmo quem faz.

Radio Muda

A Rádio Várzea é um espaço de resistência, mas sobretudo de re-eXistência. Não estamos apenas interessados em negar esse sistema moribundo, nossa luta também é propositiva, é uma reinvenção da vida, do uso da palavra, da transmissão criativa, da comunhão sonora, da diversão, do devir, a imanência radiofônica, o fortalecimento dos vínculos afetivos, das amizades e das trocas de linguagem em torno de uma emissão livre, na freqüência 107,1 FM Livre. Porque o ar é livre! ONDAS LIVRES!

Quer participar da Várzea?! Fazer um programa?! É só chegar! Ocupamos uma sala no espaço aquário do prédio da História/Geografia da USP.

O tempo do terrorismo acabou. A Rádio Várzea Livre não mais tolerará sabotagens por parte da Universidade de São Paulo. A discussão sobre comunicação é pública e exigimos um posicionamento da comunidade acadêmica para além da questão da legalidade. Porra, não parece claro que enquanto vigorar o capital, rádio livre será ilegal? Se a universidade não possui espaço para a discussão e reflexão sobre a sociedade, ela serve pra quê então?!?

Sem desobediência civil não há mudança.

Outras formas de se comunicar são necessárias e urgentes para uma mudança em nossas vidas. Fortalecer essas formas que temos, criar outras e expandir o debate para dentro e para fora da academia são questões que se colocam a todos os coletivos de comunicação livre! Pra cima deles!

RÁDIO VÁRZEA LIVRE – SINTONIZE E PARTICIPE!   107, 1 FM LIVRE!

varzea.radiolivre.org

http://radiolivre.org/

9 Responses

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